“Olhos que não vêm, coração que não sente”.
É verdade. É frase feita, ou melhor, ditado antigo ou ainda provérbio, que dito ante certas circunstâncias, parece retratar uma verdade. Mas não. Por vezes esconde uma (verdadeira) mentira…
Desde que me lembro, admito que omitir não passa de uma forma sofisticada de mentir… ou de esconder a verdade… por isso magoa-me tanto que me omitam algo, como da mesma maneira me magoa que me mintam. Mas também não suporto que certas (verdades) funcionem como capa para esconder mentiras…
Há muito tempo que te olhei pela primeira vez. Há muito tempo que suportei a intensidade do teu olhar e tanto tempo que te amei…
É verdade! Será? Julguei também ser amada… Julguei! Sim, admiti, porque pelo olhar admitimos não estar a ser enganados… e depois os lábios…
Estranhei… Não! Aceitei. A tua verdade (?) deveria ser aceite porque te amava… (e continuei a amar?)
Foi fervoroso, idílico, indescritível o momento em que me beijaste. E foi verdade aquele beijo e os outros? Não! Não podia ser… a tal verdade deveria estar ausente… e mais te amei. Em função do beijo, eloquente como uma melodia suave, passei a viver… à espera de um novo momento ímpar… Único!
Sem darmos as mãos caminhámos juntos. Nos jardins fotografámo-nos muito juntos. Pensámos (eu e eu), que nunca seríamos diferentes daquele momento… bebemos água pelo mesmo copo, nos cafés, onde frente a frente a chávenas de “bica”, trocávamos trivialidades, ou talvez não…
E nós (tu e eu), até pensámos (admito eu), que éramos verdade, entre as mentiras que preenchiam as nossas vidas…
Os diálogos deram lugar aos silêncios. Silêncios compostos por muitas palavras sem som… silêncios que são distâncias. Distâncias em que reinam outros seres, outras vivências… outros beijos…
No meu corpo flutua a minha alma solitária, cada vez mais desprendida de sonhos e o meu corpo, pobremente envelhecido vai se deixando morrer, sem desejos… só ecos de silêncios prolongados, onde às vezes a saudade provoca desesperos…
Hoje já fecho os olhos e não sinto a tua respiração perto da minha face. Hoje fecho os olhos e não sinto aquele bafo aromático a envolver-me. Apenas não sinto nada… nem o suave murmúrio da água do Tejo, a lamber a margem, enquanto nos concentrávamos para fotografar uma qualquer imagem que nos havia chamado a atenção…
Hoje não sei se sou eu ou se apenas sou a mentira da verdade que julguei ser…
A minha sombra não está na tua, mas a tua sombra está noutra sombra… naquela que tem sido sempre a tua sombra…
13.06.07
Etiquetas: pintura e foto de joaninha, Poema