Eu salto Eu pulo Eu grito E choro… Sou criança! Eu faço birra Eu amuo Eu falo alto; Quero uma trança… Eu aprendo, Levo reguadas Castigos… Estou a deixar de ser criança… Eu olho o espelho Ponho as primeiras meias altas E olho em volta… Sou adolescente! Calço os primeiros sapatos com salto E as saias rodada A fazer vista na dança… E vivo enamorada. Escrevo Desenho E pinto os olhos… Sou mulherzinha! Mas nem me atrevo, Mesmo com empenho, A dizer que “te amo”… E sonho com a magia Que me vejas um dia… E fiquei mulher! Trabalhei, Fui mãe, Mas sempre sonhei E sempre escrevi… E fui também Preterida, Esquecida, E louvada, Apreciada, E fiquei envelhecida… E já sem as bonecas Nem os “jantarinhos” Nem os sonhos da juventude, Fiquei de onde jamais sairei… Ficarei saudade Porque algum dia partirei Para o paraíso da Verdade…
Descai a palavra no papel envelhecido E escrevo sempre, cada vez mais, Mesmo que pelo tempo esteja amarelecido É no papel que recolho os meus ais…
Escrevo as palavras de quem já foi esquecido E em cada dia que passa fico sem mais ideais. Deixo escapar um suspiro dolorido, Que mais parece o gemido dos vendavais…
Chamo às minhas palavras saudade, Palavras que deixo à soltas, em liberdade E que vou fazendo escorregar para o papel…
As palavras novas que invento e te dou Para que um dia possas saber quem sou, Ficam amortalhadas na velha folha de papel…
Não vejo nada para lá do distante horizonte Imagino os azuis esbatidos do além E oiço os pássaros e um fio de água pela fonte… Para além do horizonte não há ninguém…
Nem estrelas nem gentes sobem o monte Apenas meu pulso em tiquetaque vai e vem E tudo é vão. Apenas existe o somente, Apenas existe esta angustia que me sustém…
Cantam os pássaros hinos à Primavera, Embalando-me nesta minha quimera Que não é mais que o desejo de te ver…
Cantam os pássaros no horizonte azul; Nas árvores as teias de aranha são como tule E envolvem-me para que não te possa ver…
Sentei-me num bloco de granito Frio e cinzento Na encosta de um monte Para dar largas ao pensamento… Belo e frio o granito era bonito E o fio de água da fonte Fez divagar meu pensamento… Pensei que pensam que são felizes Que são livres de pensar, Porque assim pensam os petizes Enquanto não sabem que crescem Sem nunca poder amar… Minha alma inspirada Pelo granito cinzento e frio E mulher feita pensante Percorro o caminho errante Com a máscara do faz-de-conta Que desconheço o que está mal, Que não há cunhas nem padrinhos Que escondem incompetências; De muitos falsos anjinhos Destruindo ideologias, Usando as prepotências Que vão levando falências E boicotes para destruir um ideal… Nos bastidores há intriga Há um mal destruidor Que se finge não ver… Mas que é demolidor. Inventa-se a simplicidade Para justificar o que é destruidor… Sem se pensar na dura realidade Que tudo aniquila e vai deixando dor… Já poucos sabem. Já poucos sonham Onde andam os que pensam? Já poucos sentem que se avança Todos sentem que se cansam Como a brincar, como uma criança…
Faço da verdade o meu caminho Sendo que a minha verdade és tu E nas pétalas de cada flor vou escrever Vezes sem fim, para a eternidade, Que por te amar assim hei-de viver E só teu será o meu carinho…
Confesso com o fervor de oração Que este amor é a razão que faz viver Esta alma solitária, pelos trilhos da vida, Que continuando a esperar pelo doce beijo, Se confessa apaixonada e por amor perdida, Daquele que sempre foi a sua doce ilusão…