Ouvi a voz do vento, de noite, a segredar, Entre o rodado das saias das Ninfas do Tejo, Que vinhas, de mansinho para beijar, Aquela deusa que apazigua o teu desejo…
Vieram contar-me o segredo, para deixar, Que este meu sonho, quando te vejo, Tenha o seu fim; Tem de acabar… Querem que eu esqueça o teu beijo… … …
Em coro, Ninfas e vento cantaram. Bailaram comigo e também choraram… Como baila numa vela a chama….
Mais triste, mais só com meu azedume, No Tejo foi todo o meu queixume… Porque queria ser aquela a quem ele ama…
Entre os escombros Deste velho edifício abandonado, Dança um sonho E o gosto do teu beijo apaixonado… Dança a ilusão Dança a loucura; Paira o medo da distância, A incapacidade de gerir a ausência… Nesta velha construção em ruína, Decadente, decrépita, Onde ainda bate um coração, Onde uma alma genuína Vagueia, cheia de paixão; Ouvem-se os estalidos da derrocada Daquele sim que foi não… De quem foi abandonada, Sem direito a reconstrução…. Os madeiros envelhecidos, Nuns olhos tristes e chorosos Sem uns outros tão queridos… Rebeldes, falaciosos, Que vão deixando estes perdidos Entre momentos tão saudosos… E na queda eminente, Sem qualquer salvação, Deixa-se que passe gente Que entre a mentira e a omissão Não escuta os soluços dolorosos Que rasgam os destroços de quem ainda sente….
Deixei meus olhos pela Lezíria verdejante E que o vento me abraçasse com doçura; Deixei que fosse o meu eterno amante, Entre os verdes campos, plenos de frescura…
O sibilar do vento, tão doce e cantante Fascinou minha alma carente de ternura E o seu roçar na minha pele brilhante, Marcou mais esta manhã de loucura….
És o vento que me abraça, eloquente Sussurrando aquela frase doce e quente, Que em cada manhã espero, apaixonada.
Ficas em todo o meu ser, como inspiração, Em meu peito, ajudando a bater meu coração… Porque és tudo para mim; mesmo não sendo nada…
Eu e tu. Tu e eu. Teu corpo nu, Tão junto ao meu… Teu sorriso aberto Com olhar de ternura E eu tão perto, Num encontro de ternura…
Tua pele aveludada Como pétala de rosa Deixa-me enleada E depois tão saudosa… Teu corpo no meu Com o brilho do luar, Foi um sonho que me deu, Esta vontade de te amar…
Teus lábios acariciadores, Como uma melodia infernal São indomáveis devoradores, Quando beijam sem igual… Tuas mãos são violinos, De acordes melodiosos E teus dedos, como meninos, Brincam, maliciosos… … …