Outra manhã de nevoeiro cerrado. Outro dia depois de ontem, tão recordado Um ontem triste. Apenas um ontem solitário… Dia finado, carregando a saudade neste calvário….
Esperei ver o sol num céu de nuvens carregado, Esperei em vão a tua voz naquele tom apaixonado, Mas apenas o silencio ensurdecedor do meu fadário E nada mais do que o teu mudo comentário…
Ontem vi-te na cama deitado, inerte, acabado, Olhei pela última e derradeira vez o altar fálico Homenageando esse teu agir agreste e sádico…
Depois de ontem não te voltarei a ver desarrumado… E ontem compreendi que também morria contigo, Porque ontem, esse ontem, foi um ontem tão antigo…
Já não vejo. Já não sinto… A saudade varreu meu peito E as luzes apagaram-se na solidão. Não sei se sou, ou se minto Hirta, como morta no meu leito, Choro pela minha ilusão…
No escuro, desenho, pinto: Bocas, olhos a eito… Vermelho, verde, a carvão Não sei se sou eu… ou se minto Porque o quadro não fica feito, Pois só choro a minha ilusão…
Da saudade apenas sinto A beleza dum beijo perfeito Que um dia enterneceu meu coração… Mas nem sei se sou eu …ou se minto, Quando recordo o teu jeito E a qualquer pretexto, dizes não…
Noite! Vagueio por um labirinto. Incerto amor, por mim eleito... Talvez com ódio… ou confusão… Ou já nem sei o que é o que sinto … Além desta profunda dor no peito, Onde deixo sepultada esta paixão….