sexta-feira, abril 06, 2007

DENTRO DA NOITE…



Escrevo para não gritar.
Escrevo com a alma a chorar,
Sem assustar quem está feliz
E por estar longe, nada me diz,
Escrevo pelos que repousam, aconchegados,
Ou brincam em jogos de apaixonados
e se encontram e ficam juntos…

Escrevo por quem não precisa sonhar,
Por eles, que se estão a amar
E por quem nem diz adeus...
Nem olha para os olhos meus…

Estou a escrever para não gritar.
Para abandonar o coração ao largo
Escrevo palavras amarguradas,
Inertes, paradas…
como um regato de águas mortas,
neste silencioso pranto…

Tão perto e tão longe estás,
Sem perceberes a minha insónia…
Nem ouves a escrita silenciosa,
Nem vês as manchas no papel…
Não percebes a tristeza que me dás,
e sempre usas toda essa ironia,
Essa fraseologia falaciosa,
Convertendo minhas palavras em fel…

Escrevo para não gritar.
Escrevo para não sentir a noite
Para esquecer quanto estou mal…
Que de lágrimas, sou estátua de sal
E volto a escrever para não gritar…
Escrevo para distrair o pensamento,
Para não acompanhar a noite,
E perceber que estou só,
Irremediavelmente só; que te trago comigo
Sem outra alternativa que o pensamento…
Pensamento, qual cela em que me debato
A olhar a lua entre grades dentro da noite.

Estou escrevendo para não gritar.
Para não perturbar os que se amam
Se juntam, se estreitam e sussurram
Nas sombras da noite e passeiam ao luar.

Escrevo para que as palavras chovam
Qual dilúvio e que silenciosamente me alaguem
Me deixem pela noite dentro, me afoguem
Como um corpo já sem vida e sem alma,
Vai rio abaixo, a flutuar...


06.04.07

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